Mães de bebês prematuros falam sobre a espera antes de poderem levar seus filhos para casa

O parto de emergência de Ana Luísa ocorreu na 33ª semana de gestação, quando a professora apresentou sangramento e recebeu o diagnóstico de trombose placentária e de restrição de placenta (quadro em que a placenta não se desenvolve devidamente fazendo com que o feto não receba a quantidade de nutrientes necessária para o devido desenvolvimento). Mãe de primeira viagem, a professora deu à luz a Ester durante a madrugada após horas de monitoramento. A bebê, que nasceu pesando pouco mais de 1 Kg, foi imediatamente encaminhada para o Centro de Terapia Intensiva Neonatal da Maternidade Brasília (CETIN), onde permaneceu por 49 dias, 4 deles entubada.

A passagem da pequena Ester pela UTI neonatal foi marcada por altos e baixos. Em alguns momentos apresentava melhoras importantes e em outros precisava de monitoramento por conta de um derrame no pericárdio e quadros de apneia. “Esses dias foram difíceis e frustrantes. Em alguns momentos ela estava bem e só estávamos esperando que ela ganhasse peso o suficiente para receber alta, em outros ficávamos tensos devido ao quadro de dificuldades respiratórias”, relata a mãe que saia todos os dias de sua casa no Gama para acompanhar o desenvolvimento da filha.

Depois de receber alta da UTI, a criança precisou passar mais uma semana internada pois os médicos queriam garantir o ganho de peso antes de Ester e a família poderem finalmente ir para casa. “O dia em que ela foi liberada foi o mais feliz do ano. Meu marido, Ester e eu fomos recebidos com festa em casa. Ela é a primeira neta, a família toda estava ansiosa para conhecê-la e muito feliz por ela estar em casa”, conta Ana Luísa.

Hoje, com cinco meses e já tendo o alcançado o desenvolvimento motor adequado para a idade, Ester já recebeu alta de parte dos especialistas que a acompanharam. “Ela ainda precisa fazer a estimulação precoce, ainda falta o cardiologista e. Mas já podemos ver nossa filha se desenvolver saudável e ativa e isso é o que mais importa”, finaliza a mãe.

Daniel veio ao mundo com 25 semanas de gestação pesando 810g. Sua mãe, a servidora pública Angela de Jesus, desenvolveu complicações por conta de uma infecção urinária que, sem manifestar sintomas, chegou a atingir a placenta e adiantou em várias semanas os sinais de parto.

Foram 97 dias na UTI neonatal, desses, mais de 40 entubado. O que só permitiu que a mãe segurasse o filho nos braços pela primeira vez 44 dias após o parto. “Eu ia todos os dias acompanhá-lo, tirar o leite para ele e para os outros bebês internados que precisavam. Era angustiante não poder segurar meu filho, sentir o cheirinho dele”, emociona-se a servidora pública.

Angela relata que o período de internação foi marcado por apreensão e angústia. Além de todos os desafios, Daniel desenvolveu infecção e precisou passar por uma cirurgia nos olhos por conta de uma retinopatia – problema visual muito comum em bebês prematuros, que ocorre devido ao reduzido grau de desenvolvimento dos olhos. Mas ela não foi a única a sofrer em casa, o filho mais velho, de cinco anos não pode visitar o irmão por conta das restrições causadas pela pandemia da covid-19.

Hoje, com 1 ano e cinco meses, Daniel é uma criança ativa e saudável.  Ainda realiza acompanhamento com uma equipe multidisciplinar para alcançar o desenvolvimento adequado para a idade, mas já está em casa aos cuidados dos pais e recebendo o carinho do irmão mais velho.

Novembro Roxo: o mês da prematuridade

A campanha tem o objetivo de despertar para a realidade da prematuridade no Brasil: um em cada dez bebês nascem nessa condição. A prematuridade é um problema de saúde que se caracteriza pelo nascimento pré-termo, também conhecido como prematuro, que é quando o bebê nasce antes da 37ª semana de gestação (com menos de 259 dias).

São diversos os motivos que levam ao nascimento de bebês prematuros. Por causa de vários fatores de risco, em algumas situações é difícil identificar o motivo exato do problema. No entanto, existem muitas condições que podem contribuir para o quadro, entre elas estão falta de cuidado pré-natal, diabetes, infecções urinárias, obesidade, gravidez gemelar, alcoolismo, tabagismo e hipertensão.

A coordenadora da UTI Neonatal da Maternidade Brasília, Ana Amélia Meneses, explica que, entre as causas de prematuridade, algumas podem ser tratadas, como a infecção urinária materna, controle do diabetes e da hipertensão. “Em alguns casos, apesar de um pré-natal bem-feito, não é possível controlar a glicemia e a hipertensão e, em razão do risco que a mãe corre com essas alterações, é indicada a interrupção da gestação antes da hora, com o nascimento do bebê prematuro. O descolamento de placenta é uma emergência obstétrica, com indicação de interrupção imediata da gestação”, diz a médica. A Dra. Ana Amélia orienta também que a principal forma de diminuir os riscos de ter um filho prematuro é fazer um bom acompanhamento médico durante o pré-natal. “Avaliação de um profissional de confiança para que as dúvidas sejam respondidas e as mudanças comuns da gestação sejam compreendidas é fundamental . Além disso, também é recomendado durante esse período a adoção de um estilo de vida saudável. Logo após a confirmação da gravidez o pré-natal deve começar, para que consultas e exames sejam feitos e o médico possa acompanhar bem de perto a gestante, bem como todo o desenvolvimento do bebê, para evitar riscos de complicações e prevenir o nascimento prematuro”, finaliza a médica.

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