Superação: a vida após vencer o câncer de mama

Não apenas em outubro, durante todos os meses do ano é preciso ter atenção aos sintomas da doença e realizar os exames de rotina

Mesmo depois de concluir o tratamento do câncer de mama, a paciente ainda precisa realizar acompanhamento médico adequado e adotar um estilo de vida saudável, que inclui a prática regular de atividade física, alimentação equilibrada e cuidado com a qualidade do sono. O oncologista do Hospital Brasília Fernando Vidigal alerta que a saúde mental da paciente também deve ser levada em consideração. “Muita atenção deve ser dada ao acompanhamento psicológico já que não são incomuns transtornos de ansiedade e depressão após o tratamento”, explica o oncologista.

Além disso, pacientes que tiveram a doença precisam continuar atentas aos exames preventivos periódicos. “Os riscos de recaída dependem das características do tumor, incluindo tipo do câncer e estágio em que a doença foi diagnosticada, mas é necessário ter cuidado e fazer os exames no período indicado pelo médico”, ressalta o médico.

O diagnóstico precoce salva vidas

Suendi Peres tinha pouco mais de 30 anos quando recebeu o diagnóstico de câncer de mama. Sua irmã, de 27, estava no fim do tratamento do mesmo tipo de câncer. Por conta da idade das irmãs, foi indicada a realização de um estudo genético para investigar melhor a doença. No entanto não foi encontrada nenhuma mutação comum que explicasse o diagnóstico em idade tão precoce.

Como a doença foi identificada em estágio inicial, as perspectivas de recuperação eram altas desde o começo. Mas não deixou de ser um desafio passar pelo tratamento. Suendi, que à época trabalhava como assessora de comunicação, precisou realizar a remoção do tecido mamário de ambos os seios, a chamada mastectomia bilateral. Além disso, a medicação para o controle da doença resultou em uma menopausa forçada.

Atualmente, Suendi ainda precisa de acompanhamento médico, mas a vida já deu uma grande virada. Ela é mãe de uma menina de 4 anos e decidiu mudar de carreira. Está cursando o terceiro ano da faculdade de medicina.

Outro caso é o de Ana Flávia Coelho, que foi diagnosticada com câncer de mama duas vezes. Na primeira vez, em 2008, a confirmação só veio após muitos resultados inconclusivos. Uma ressonância magnética mostrou que o câncer já estava em estágio avançado e que seria necessária a remoção de toda a mama, linfonodos auxiliares e músculos peitorais para tratar a doença, procedimento conhecido como mastectomia radical. “Foi um susto muito grande. Nunca esperamos que aconteça conosco. Não fosse minha insistência, o resultado seria bem mais grave. Por isso é importante conhecermos nosso corpo, tocá-lo sempre. Só assim é possível perceber quando há algo diferente”, conta ela.

Em 2015, Ana Flávia recebeu a notícia de que o câncer havia voltado e que precisaria refazer a cirurgia na mama que já havia tirado. Outro susto, desta vez mais grave. Quatro anos depois, ela conheceu o Projeto Florescer do tatuador Rodrigo Catuaba, que tem como objetivo ajudar na recuperação da autoestima de mulheres que tiveram que passar pela mastectomia. “Fiz o desenho tridimensional do mamilo e cobri com flores as muitas cicatrizes causadas pelas duas cirurgias. Esse processo não me devolveu as mamas, mas com certeza amenizou as feridas emocionais que eu nem sabia que ainda tinha. Achava que estava muito bem resolvida com as cicatrizes. Mas a alegria em ver minhas novas mamas, lindas pela tatuagem bem-feita, percebi o tamanho que tinha sido a perda.  Se antes evitava mostrá-las, hoje, sempre que posso, mostro feliz o resultado para encorajar outras mulheres a fazer tatuagem”, comemora.

Madalena Oliveira é mais um exemplo de sucesso. Não tinha histórico da doença na família e estava planejando engravidar quando percebeu um nódulo de 3 cm durante o autoexame. Após uma visita ao ginecologista, foi diagnosticada com câncer de mama em estágio avançado. Depois de consultar diferentes especialistas, optou pela realização de uma mastectomia parcial do seio esquerdo.

Após 3 anos de tratamento, que incluiu quimioterapia, radioterapia e injeções subcutâneas, além dos 5 anos de remissão, Madalena recebeu alta. “Os médicos indicam que a paciente que recebe alta adote um estilo de vida mais saudável e pratique atividades físicas. Um dos professores da academia que eu frequentava sugeriu que eu aderisse às corridas na esteira”, conta ela. A sugestão foi o início uma nova fase em sua vida.

Pouco tempo tempos, participou de sua primeira corrida de 5km e se apaixonou pela prática. Após correr diversas ultramaratonas, Madalena criou o Bora Viver, projeto que já levou mais de 7mil pessoas de todas as idades a participar de corridas em trilhas. “O nome do projeto veio de um jargão que eu usava no meu dia a dia durante todo o tratamento. Era a expressão que eu utilizava como ponto de partida todos os dias como se cada dia fosse o último”, conclui.

A história de Aline Castro foi diferente. Devido ao histórico de câncer de mama na família, à perda de duas primas e ao diagnóstico da mãe antes dos 50 anos, Alice realiza exames preventivos desde a adolescência. Quando sua mãe foi diagnosticada com câncer de mama pela segunda vez, aos 80 anos, a escritora, à época com 50 anos, passou a não se limitar mais à mamografia e a fazer a ressonância magnética das mamas semestralmente. Foi em setembro de 2020, depois de antecipar o exame preventivo, que surgiu a suspeita de câncer de mama bilateral em estágio inicial. Os médicos indicaram a realização de uma mamectomia (exame feito quando os nódulos são muito pequenos) e a retirada dos nódulos nos dois seios. “Não devemos nos ater apenas ao que serve para todos. Minha família tem muitos casos da doença por isso preciso trabalhar com a realidade. Prevenir é a melhor atitude que podemos adotar. Ao receber o diagnóstico bem no início, tive a oportunidade de estudar, analisar e tomar a melhor decisão e minimizar os riscos”, relata ela.

A incidência do câncer de mama tende a crescer progressivamente a partir dos 50 anos e o rastreamento da doença é indicado para mulheres entre 40 e 69 anos uma vez a cada dois anos. Porém, de acordo com o oncologista Fernando Vidigal, especialistas têm notado o aumento da incidência de câncer de mama em mulheres com idade entre 30 e 35 anos. Isso indica que a realização dos exames preventivos deve ser adotada cada vez mais cedo, principalmente por mulheres com histórico familiar da doença. “O câncer de mama antes dos 35 anos deve levantar a suspeita de alterações genéticas que predispõem o surgimento da doença. Nesta situação testes genéticos podem ajudar no diagnóstico e tratamento”, explica o médico.

Hospital Brasília

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