A Difícil Tarefa de Dizer “Não” às Crianças na Hora do Exagerado Consumismo de Natal

A educadora Carolina Delboni explica que é fundamental impor limites aos filhos, principalmente quando eles desejam algo material

Vivemos atualmente em uma sociedade que consome tudo, o tempo inteiro. Sejam bens e serviços, alimentos, produtos para casa, vestuário, lazer, brinquedos e até sensações. A cada instante, e principalmente com as redes sociais, somos bombardeados por todo tipo de oferta e, muitas vezes, caímos em tentação para adquirir algo sem necessidade, apenas por prazer, o famoso consumismo.

E se nem os adultos resistem a um dos maiores problemas da modernidade, imagine as crianças e adolescentes, que quase sempre acreditam que precisam possuir determinada coisa para se sentirem aceitos em seu grupo. É como se fosse preciso “ter”, para “ser”, e aí cabe aos pais impor limites e falar o tão difícil, e temido, “não” na hora certa.

“Há uma geração de pais que tem extrema dificuldade em dizer “não” aos filhos, em colocar limites. São pais que, por diversas razões – como frustrações, desejo de dar o que não teve, medo de enfrentar o próprio filho – acabam cedendo e dizendo “sim” em muitas situações do cotidiano, do dia a dia. A consequência disso são crianças e adolescentes sem limites materiais e, principalmente, sociais pois eles ganham a falsa sensação de que tudo podem, inclusive atravessar o limite do colega, por exemplo”, alerta Carolina Delboni, educadora e especialista em comportamento adolescente.

Período de grande tentação

Com a chegada do fim do ano e aproximação do Natal, as ofertas dos mais variados bens de consumo ficam ainda mais em evidência, e muitos pais sofrem para fazer com que os filhos entendam o que podem, ou não, ganhar de presente. E não é raro nos depararmos com as clássicas cenas de pequenos fazendo escândalo no meio de uma loja, com determinado produto em mãos, e suplicando que o adulto compre aquilo.

O que é ainda pior, é que, na maioria das vezes, a criança passa meses pedindo determinado brinquedo, mas quando finalmente recebe o tão sonhado objeto, toda aquela euforia se desfaz em dias, ou até em horas, e o tal objeto de desejo fica esquecido, num típico caso de consumismo infantil.

“A criança sente necessidade de possuir algo de forma rápida, quer apenas saciar o desejo, o que tem uma relação muito forte com as telas e a velocidade com que estamos consumindo – veja, não é por acaso que se usa esse termo – conteúdo. Tudo é muito rápido, as imagens são rápidas, os produtos aparecem e desaparecem porque logo lançam outra coisa mais interessante e todo este contexto vai moldando um comportamento fugaz na criança. Ela mal deseja algo e já está desejando outra coisa e na mesma velocidade, os pais suprem os pedidos como forma de demonstrar amor, substituir presença e não frustrar o próprio filho. Mas isso é uma bola de fogo que a qualquer momento vai explodir porque não existe espaço na sociedade para esse tipo de consumo e desejo ilimitado, explica Carolina.

De acordo com a especialista, essa atitude permissiva dos pais contribui para uma geração de crianças e adolescentes que não são capazes de esperar, de conter os próprios desejos, que não aprendem a lidar com o “não”, com limites. São crianças e adolescentes que vão rompendo uma série de regras de vida em sociedade. “Para educar um filho, é preciso se autoeducar também. Então, quando digo “não” para um filho, quando dou limite para essa criança, estou fazendo a mesma coisa comigo, internamente”, diz Carolina.

Dicas para ensinar as crianças

Mas então, como evitar o consumismo entre jovens e crianças, em tempos em que as redes sociais e suas ofertas sempre persuasivas estão tão presentes na vida dos pequenos? Além do limite e do tão importante “não”, já citados pela educadora, alguns exercícios e atitudes podem ajudar.

Como diz o bom e velho ditado, os filhos são espelhos dos pais e acabam copiando as atitudes e comportamentos dos adultos. Sendo assim, é importante dar o exemplo e evitar o consumismo em si mesmo”, diz Carolina.

Outro ponto importante citado pela especialista é falar com crianças e adolescentes sobre finanças e sempre usar da transparência, explicando ao filho a diferença entre o que ele quer, e o que ele pode, de fato, ter ou ganhar. 

Para crianças mais velhas, já na adolescência, pode ser interessante que os pais deem uma mesada, e ensinem como lidar com aquela quantia, dando senso de responsabilidade financeira.

A troca de um bem material por experiências sensoriais e simples, também pode ser uma boa. Um piquenique no parque, uma sessão de jogos, leitura, e outras atividades do tipo podem fazer com que a criança perceba que há coisas muito mais legais do que adquirir aquele brinquedo, roupa ou eletrônico tão desejado.

Vale lembrar, ainda, que a presença de qualidade dos pais junto das crianças e adolescentes é fundamental para que esse ser humano cresça e se desenvolva de forma plena. Muitos adultos cismam em compensar a ausência – devido a compromissos, ritmo de trabalho acelerado, viagens profissionais, etc. – com presentes materiais para os filhos e isso é mais um erro. “Esteja mais perto do seu filho, converse, troque experiências, se interesse pelos assuntos deles e mostre que a vida é muito mais do que só adquirir e desejar bens materiais”, pontua Carolina Delboni.

Fonte: Carolina Delboni, educadora e especialista em comportamento adolescente

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