Cocô do bebê: como saber se está tudo normal – parte 4

Saiba como deve ser o aspecto das fezes e o ritmo das evacuações de acordo com a idade e alimentação do bebê

Quando o intestino “adoece” o corpo também “adoece” e informa ao bom observador outros sinais e sintomas que podem levar o pediatra ao diagnóstico adequado, precoce, favorecendo o tratamento e a orientação mais adequados para cada caso.

Esses sintomas associados podem estar presentes tanto no sistema digestório (vômitos, náuseas, distensão abdominal, gases), como em outros sistemas e aparelhos de nosso organismo.

Esse artigo faz parte de uma série, para ver as demais partes, acesse:

E não devemos deixar de observar sintomas gerais (estado de hidratação, febre, suor, tremores, apetite, humor, perda ou não ganho adequado de peso) que, quando associados aos quadros intestinais, podem orientar o pediatra na busca pelo conceito de saúde da Organização Mundial de Saúde.

Bebê deitado usando fralda com as pernas levantadas pela mãe - Foto: gualtiero boffi/ShutterStock.com

Segundo a OMS, saúde é o estado de completo bem-estar físico mental e social. Mas como definir isso em um bebê?

A observação dos pais e da família, o contato e as avaliações pediátricas nas consultas de rotina podem “determinar” se a saúde do bebê está adequada. Vários são os parâmetros utilizados para esse diagnóstico:

  • crescimento e desenvolvimento;
  • acompanhamento de alimentação, vacinação, sono e também as suas funções fisiológicas – urina e fezes.

Assim, a avaliação das características das fezes e do ritmo intestinal e suas mudanças fazem parte da avaliação do estado de saúde de um bebê.

Qualquer mudança nas fezes da criança merece ser observada e investigada, mas nem sempre é sinal de alerta. Para afirmar que ela indica um problema de saúde é importante observar se a criança apresenta outros sintomas associados, como vômitos, náuseas, distensão abdominal e gases, ou sintomas gerais, como febre, suor, tremores, mudanças no apetite e no humor, perda ou ganho não adequado de peso.

Na próxima semana, vamos abordar um pouco mais sobre os problemas que podem aparecer em relação às evacuações.

Atenção: os tempos mudaram e alguns conceitos também

Após estudos relacionados a alergias alimentares e obesidade infantil, entre outros, alguns alimentos que eram liberados até há alguns poucos anos agora não são recomendados e outros que “amedrontavam” os pediatras e as mães agora não representam riscos.

O leite materno continua sendo o padrão-ouro de alimentação desde a 1ª hora de vida, exclusivo e em livre-demanda até o 6º mês, estendido até 2 anos ou mais (de novo??? Rsrs).

Mas e se o bebê não toma Leite Materno (LM) ou faz aleitamento misto?

E se a introdução alimentar não foi feita apenas APÓS o 6º mês como recomendam os Dez passos para uma alimentação Saudável que estão descritos no Manual de Orientação de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (2012) e no Guia alimentar para crianças menores de dois anos do Ministério da Saúde (desde2002,2005,2010e até o último em2013, só pra mostrar que isso não é tãããoooo recente assim)?

Entre as mais comuns causas de alterações de ritmo de evacuações do bebê, a alimentação inadequada bate, de longe, os outros “concorrentes”. E isso acontece porque novos estudos são feitos e nem sempre divulgados ou lidos adequadamente, o que demonstra a importância do acompanhamento profissional adequado (pediatra, nutricionista).

Por exemplo, não existe comprovação científica para a exclusão de nenhum tipo de alimento para a gestante ou para a mãe que esteja amamentando na intenção de prevenir problemas no bebê (cólicas, gases, alergias). Assim, tanto a gestante quanto a lactante podem e devem ter uma alimentação equilibrada, sem restrições.

Entre os vilões [de alimentos para crianças até 1 ano], podemos citar o mel (pelo risco de botulismo), o leite de vaca integral (sensibilização à proteína do leite de vaca e anemia) e, mais recentemente, os sucos, mesmo naturais (prevenção de obesidade infantil e diabetes tipo 2), que não devem ser oferecidos abaixo de um ano de idade. Além disso, é recomendável a restrição do sal (prevenção de hipertensão) e do açúcar (prevenção do diabetes tipo 2 e obesidade infantil) adicionados à alimentação infantil.

Só para reforçar, deve ser evitado alimento industrializado, que contenha gordura vegetal (como biscoitos recheados, frituras, entre outros). Infelizmente, as pesquisas mostram o imenso consumo desse tipo de alimentação abaixo de um ano de idade. Por outro lado, o ovo e o peixe que tinham sua introdução retardada para um ano de idade ou mais, hoje em dia podem ser oferecidos a partir do 6º mês de vida.

Aleitamento materno ou fórmulas infantis: não há o menor senso de comparação

Bebês em aleitamento materno exclusivo (AME) podem evacuar a cada mamada ou passar até 5 a 7 dias sem evacuar e as fezes podem variar de líquidas a pastosas. Esse ritmo e essas características evoluem até que chegam a um ano de idade (ou até adultos) quando o ideal é evacuar pelo menos uma vez ao dia, fezes formadas, de consistência firme, porém não ressecadas.

Um hábito importante que todos os pais deveriam ter é observar suas fezes e de seus filhos, às trocas ou antes de dar a descarga. Isso é mais fácil de fazer enquanto o bebê usa fraldas. Qualquer alteração sempre merece ser observada e algumas vezes investigada.

O recém-nascido (RN) apresenta como sua primeira eliminação um tipo especial de fezes que é conhecido como mecônio (verde, grudento, difícil de limpar) que após alguns dias (no máximo uma a duas semanas) costuma assumir as características de fezes mais amareladas e mais líquidas e que, com o passar dos meses, ficam mais escuras e mais consistentes. Assim, nem sempre uma mudança nas características das fezes ou no ritmo intestinal é sinal de alerta.

Normalmente, bebês em uso de fórmulas infantis apresentam fezes mais secas, mais duras e em ritmo mais lento do que os que estão em AME. Esta é uma das principais preocupações das indústrias alimentícias quando da fabricação de suas fórmulas infantis, tentando se assemelhar, o máximo possível, à composição do leite materno.

A diferença nas características e nas proporções dos carboidratos, proteínas e gorduras entre o leite materno e as fórmulas, além dos micronutrientes, são fatores determinantes tanto no aspecto nutricional, na prevenção de anemias, desnutrição, obesidade infantil (entre outros problemas). Uma das tentativas das indústrias para solucionar essa questão é a adição de prebióticos (fibras especiais) e probióticos (bactérias que fazem parte da flora intestinal normal) à sua composição, tentando imitar ao máximo o leite materno.

Em crianças em aleitamento misto ou em uso exclusivo de fórmulas infantis (FI), as fezes costumam ser mais ressecadas e o ritmo intestinal passa a ser mais espaçado, mesmo em bebês pequenos. Essa mudança das fezes fica mais evidente quando é introduzida a alimentação complementar, atualmente aos 6 meses completos, independente de ser AME ou aleitamento misto ou só com FI.

E após a introdução alimentar como fica?

São muitas as variáveis para essa análise, devendo ser levadas em consideração tanto a consistência das fezes quanto o ritmo de evacuação, que são variáveis de acordo com cada criança, com cada faixa de idade, com cada padrão de alimentação. Sempre devemos estar atentos a mudanças do padrão, especialmente se forem agudas.

Diarreias e obstipações intestinais (prisão de ventre) agudas costumam ser um sinal de que algo não vai bem.

A diarreia é um quadro de mais fácil observação, as fezes ficam de consistência líquida, em maior número de vezes ao dia, deve-se levar em conta o estado de hidratação da criança e, especialmente para os bebês pequenos, este quadro deve ser comunicado ao pediatra. Depois da diarreia costuma vir um período de obstipação transitório, que se regula em dias.

Em outras crianças, o intestino pode ser mais preso, seja pela consistência endurecida das fezes (cíbalos, parecidas com fezes de cabritos), que dificultam sua expulsão, ou por características do funcionamento do intestino.

A alimentação e a hidratação são fatores importantes associados a esse quadro. Até os 6 meses, o tipo de leite geralmente determina o ritmo intestinal (leite materno – mais amolecidas; fórmulas infantis – mais ressecados). Após os 6 meses, a alimentação complementar e a hidratação serão importantes no ritmo regular das evacuações. É importante lembrar que só o intestino (fezes e ritmo) não é suficiente para indicar algum problema.

O mais importante é avaliar como está a criança, com a mudança observada – se apresenta algum incômodo, seja no apetite, no humor, se estão ocorrendo outros sintomas (febre, vômitos), o pediatra deverá ser consultado.

Bom depois disso, já estamos no caminho de uma boa eliminação.

Na próxima e última parte: mais problemas, mais dúvidas e quem sabe até mais dicas úteis pro seu caso.

Dr. Moises Chencinski

Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com título de especialista em pediatria pela Associação Médica Brasileira (AM...

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