Cólicas em Bebês – parte 3

O fim da gestação no útero representa várias perdas para o bebê e a necessidade imediata de enfrentar um novo universo Recomeçando essa semana com o final da semana passada: “Já consegui convencer vocês que nosso bebê nasce antes do que devia (prematuro), que precisaria de pelo menos mais 9 meses de gestação para nascer “mais pronto”, que demora a se desenvolver e precisa da presença mais constante de seus pais e familiares para que esse processo ocorra da forma mais satisfatória e completa possível?” Esse artigo faz parte de uma série, para ler as demais partes, acesse: Mesmo que vocês não tenham toda essa certeza, vamos a mais fatos para que se comece a compreender um novo conceito sobre cólicas? Bebê recém-nascido no colo da mãe - Foto: Kati Molin/Shutterstock.com

Respiração

Conceito do Dicionário Caldas Aulete Na respiração, em processo normalmente automático, o aparelho respiratório primeiro inspira ar (rico em oxigênio) do exterior e o encaminha por vários dutos sequenciais para os pulmões, onde o oxigênio é transferido para o sangue e onde o sangue transfere o gás carbônico para os pulmões; logo em seguida expira para o exterior o ar com o gás carbônico, e o ciclo recomeça. O aparelho circulatório, através do sangue, leva o oxigênio a todas as células do corpo, delas retira o gás carbônico e o leva aos pulmões para ser expirado. Dentro do útero, a respiração (troca de gás carbônico por oxigênio) é feita toda pelo cordão umbilical (2 artérias e 1 veia umbilicais) e pela placenta. Dentro do útero os pulmões do nosso bebê estão imersos em água (líquido amniótico) e não podem “respirar” (inspirar e/ou expirar). Aí o bebê vai nascer. Assim que ele sai ou é retirado do útero materno (parto via vaginal – normal ou fórceps – ou via abdominal – cesariana) o bebê ainda está ligado à sua mãe através do cordão umbilical. Nossa recomendação é aguardar para clampear (cortar) o cordão até que ele pare de pulsar (clampeamento tardio de cordão), que deve durar no máximo 2 a 3 minutos após o parto. Enquanto pulsa, o cordão ainda está levando oxigênio para o bebê e aguardando que ele assuma sua própria respiração através dos pulmões que não “trabalhavam” no útero. Assim que o cordão umbilical for cortado, o nosso bebê terá que respirar por conta própria, em um processo totalmente novo.

Alimentação

Enquanto dentro do útero, todos os nutrientes que o bebê necessita para crescer de forma adequada e se preparar para o nascimento são enviados constantemente para ele… adivinhem!!! Isso mesmo. Olha ele aí de novo: o cordão umbilical. Dentro do útero, nesse momento, o sistema digestório está inativo e é estéril, sem nenhuma bactéria sem flora intestinal e ele não evacua dentro do útero. Se isso acontecer é um sinal de alerta. Assim como a respiração é constante, a oferta de alimentos para o bebê é contínua, ou seja, sem que ele peça para comer. Isso é quase… uma livre-demanda, sem a demanda, não é mesmo? Essa chegada constante do alimento ao bebê é fundamental para seu crescimento, para que ele não tenha hipoglicemia (falta de açúcar no sangue) e não corra risco de morte. Assim, mais uma vez, nossa recomendação é aguardar para clampear (cortar) o cordão só quando ele parar de pulsar (clampeamento tardio de cordão), que costuma acontecer no máximo 2 a 3 minutos após o parto. Enquanto pulsa, o cordão ainda está levando nutrientes para o bebê e aguardando que ele assuma sua própria alimentação através do sistema digestório que não “trabalhava” no útero. Assim que o cordão umbilical for cortado, o nosso bebê terá que se alimentar por conta própria, em um processo totalmente novo.

Movimentação

Enquanto dentro do útero, o bebê “passeia” com sua mamãe e vai com ela onde quer que ela vá. O bebê está sempre acompanhado e acompanhando sua mãe. Em momento algum, esse bebê fica sozinho. Ele é acompanhado pelo som do coração, da respiração, do intestino e da voz de sua mãe e de seu pai, além do som do… de novo??? Pois é, tá ficando monótono: o cordão umbilical. E o bebê responde aos movimentos de sua mãe com a sua própria movimentação. A falta de movimentos fetais pode ser mais um sinal de alerta em relação a riscos desse bebê. Assim como a movimentação é constante, os sons são constantes, mesmo quando cessa a movimentação e a mamãe está deitada dormindo, o embalar esse bebê faz parte de sua rotina dia e noite. Isso é quase… um colo lá dentro, não é mesmo? Assim, mais uma vez, nossa recomendação é aguardar para clampear (cortar) o cordão até que ele pare de pulsar (clampeamento tardio de cordão), que deve durar no máximo 2 a 3 minutos após o parto. Enquanto pulsa, o cordão ainda está garantindo para o bebê um pouco mais de “colo” antes de o bebê perde seus limites físicos (o útero da mamãe) e ter que enfrentar esse mundo sem limites.

A prematuridade

O bebê nasce e tem que aprender, de repente, a respirar, se alimentar e viver sem sua mãe sempre por perto, mesmo sem estar preparado para isso, indefeso. Emocionalmente, fisicamente, psicologicamente, funcionalmente o bebê-humano é, entre os animais o que nasce mais despreparado e, mesmo assim, é o único que é afastado da mãe logo que nasce e o que encontra mais resistência social para que seja amamentado, carregado e pego no colo, receba o calor que precisa para que suas “funções funcionem”. E essas transformações levam tempo. Aprender a mamar, a pega adequada, a forma de alimentação complementar, a digestão adequada a cada uma dessas fases. Aprender a respirar adequadamente. Aprender a viver de forma mais independente pode levar mais tempo, meses até. Acho legal uma ideia que li: “Nascimento não é apenas o início da vida da pessoa, mas implica também o fim da gestação. O nascimento representa alterações funcionais complexas e muito importantes que servem para preparar o recém-nascido para a passagem sobre a ponte entre a gestação no útero e gestação que continuará fora do útero.” (Montagu, 1986). E é com esse novo conceito de “gestação fora do útero” que acabo essa nossa conversa dessa semana e vou começar a próxima. E acompanhando aqui, aos poucos, vou tentar fazer o elo entre essas “novidades” e as cólicas do bebê. Juro. Podem acreditar. Rsrs. Esse artigo faz parte de uma série, para ler as demais partes, acesse:
Dr. Moises Chencinski

Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com título de especialista em pediatria pela Associação Médica Brasileira (AM...

Veja o perfil completo.

Deixe um comentário