Cólicas em Bebês – parte 7

Dicas práticas que podem ajudar na maioria dos casos de cólicas em bebês Bom, já deixei um tempo para que as informações dessas partes anteriores fossem devidamente avaliadas, digeridas e que as dúvidas fossem esclarecidas. Esse artigo faz parte de uma série, para ler as demais partes, acesse: Então agora, vamos para a parte prática e para algumas dicas sobre o que se pode fazer na tentativa de passar por essa fase, independente do nome que se queira dar ao quadro, adequado ou não (cólicas, manha, salto de desenvolvimento, pico de crescimento, exterogestação, ou qualquer outro). Papai abraçando a mamãe que segura o bebê no colo - Foto: Andy Dean Photography/ShutterStock.com

Quando não esperar e conversar com pediatra

Bebês podem chorar por várias razões, muitas vezes é difícil entender o que eles querem. Mas algumas situações devem servir de alerta para que alguma providência seja tomada mais rapidamente e, sempre que possível, com orientação médica (pediatra ou pronto-socorro). Podemos pensar em situações mais agudas:
  • O bebê chora e tem sintomas como febre, vômitos, diarreia, tosse, entre outros;
  • O choro do bebê é inconsolável, não para no colo, não para quando mama;
  • O bebê chora muito e não está evacuando como de costume e/ou as fraldas estão mais secas (sem urina) do que o habitual;
  • A duração do choro está excessiva, sem ter um tempo determinado para isso, mas além do que é o tempo habitual de choro de seu bebê;
Além disso, quadros que mostram alguma alteração mais duradoura:
  • O quadro passou de 4 meses;
  • O ganho de peso e estatura não estão adequados;
  • As crises aparecem mais de uma vez por noite e interferem demais no sono e na alimentação do bebê;
  • Por conta desse quadro do bebê, vocês (mãe e pai) estão muito irritados, nervosos, tristes, desconsolados, com sono irregular.
Além disso, tanto nos quadros agudos como nas situações crônicas, aparecem problemas ou situações que não estão entre essas que estão descritas acima, mas estão exigindo mais atenção e causando dificuldades para a dinâmica do bebê e/ou da família. Independente de a que quadro estivermos nos referindo, NUNCA AUTOMEDIQUE OU “AUTODESMEDIQUE” SEU BEBÊ. Nessas situações converse com seu pediatra de confiança o quanto antes. Discuta essa situação com ele. Esclareça suas dúvidas. Exponha sua ansiedade e suas preocupações. Só assim, será possível agilizar a solução ou o encaminhamento do problema. Mas lembre-se que essas situações existem, mas são mais raras. Nos dias de hoje, parece que estamos vivendo uma epidemia de alergia a proteína do leite de vaca (APLV), intolerância à lactose, ao glúten, doença de refluxo gastroesofágico (DRGE). O que os estudos mostram até hoje em dia é que esses quadros não aparecem nem em 10% das crianças, sendo que no restante (90%), em sua imensa maioria, não há necessidade de nenhum tratamento medicamentoso.

Colo vicia? Atenção constante e imediata faz mal?

Essa situação já é motivo de estudos e pesquisas há muito tempo (isso mesmo, você não é a primeira e muito menos a única mãe a passar por essas dúvidas e esses “desafios”… rsrs). Foi publicado naedição de dezembro de 1984 do Pediatrics, um estudo realizado por Bruce Taubman, um pediatra na Filadélfia, com 2 grupos de 30 crianças cada um. Um grupo de crianças com cólicas, que apresentavam uma média de 2,6 horas de choro ao dia e outro, sem cólicas, que chorava uma média de 1 hora por dia. Nesse estudo, se avaliava a importância da interação dos pais com as crianças como fator de modificação das crises. Foram passadas algumas orientações básicas para esses dois grupos.

Grupo 1 – Bebês com cólicas

  1. Tente não deixar nunca o bebê chorando.
  2. Para descobrir por que seu filho está chorando, tenha em conta as seguintes possibilidades:a- O bebê tem fome e quer mamar.- O bebê quer sugar, mesmo sem fome.c- O bebê quer colo.d- O bebê está entediado e quer distração. e- O bebê está cansado e quer dormir.
  3. Se continuar chorando durante mais de cinco minutos com uma opção, tente com outra.
  4. Decida você mesma em qual ordem testará as opções anteriores.
  5. Não tenha medo de superalimentar seu filho. Isso não vai acontecer.
  6. Não tenha medo de estragar seu filho. Isso também não vai acontecer.

Grupo 2 – Bebês sem cólicas

  1. Quando o bebê chorar e você não souber o que está acontecendo, deixe-o no berço e saia do quarto.
  2. Se após vinte minutos ele continuar chorando, torne a entrar, verifique (um minuto) que não há nada, e volte a sair do quarto.
  3. Se após vinte minutos ele continuar chorando, etc.
  4. Se após três horas ele continuar chorando, alimente-o e recomece.
O que se observou? As conclusões apontaram para a importância da atenção dada às crianças nessa fase. O grupo 1 (bebês com cólicas que tinham a atenção das mães) teve uma diminuição, após 2 semanas, de 2,6 para 0,8 horas de choro ao dia, comparadas com um aumento do número de horas de choro do grupo 2 (grupo controle sem cólicas que não recebia a atenção da mãe imediata) para 3,1 horas ao dia. O Dr. Carlos Gonzalez (pediatra espanhol), em seu livro “Un regalo para toda la vida – Guía de la lactancia materna”, chama atenção para as duas últimas recomendações dadas ao grupo de bebês com cólicas: – É impossível superalimentar um bebê por oferecer-lhe muita comida (que o digam as mães que tentam enfiar a papinha em um bebê que não quer comer) – É impossível estragar um bebê dando-lhe muita atenção. Estragar significa prejudicá-lo. Estragar uma criança é bater nela, insultá-la, ridicularizá-la, ignorar seu choro. Contrariamente, dar atenção, dar colo, acariciá-la, consolá-la, falar com ela, beijá-la, sorrir para ela são e sempre foram uma maneira de criá-la bem, não de estragá-la. – Não existe nenhuma doença mental causada por um excesso de colo, de carinho, de afagos… E, contudo, a prevenção dessa doença mental imaginária, o estrago infantil crônico, parece ser a maior preocupação de nossa sociedade. – E se não, amiga leitora, relembre e compare: quantas pessoas, desde que você ficou grávida, avisaram da importância de colocar protetores de tomada, de guardar em lugar seguro os produtos tóxicos, de usar uma cadeirinha de segurança no carro ou de vacinar seu filho contra o tétano? Quantas pessoas, por outro lado, avisaram para você não dar muito colo, não colocar para dormir na sua cama, não “acostumar mal” o bebê?

Dicas práticas que podem ajudar na maioria dos casos

Se os pais observam bem seus bebês, conversam e esclarecem as dúvidas com seus pediatras, se os riscos menos comuns e que necessitam de uma intervenção mais urgente estão afastados, fica muito mais “fácil” tomar algumas providências que podem resolver ou pelo menos minimizar essa situação. Sempre é interessante observar e tentar achar um ritmo, identificar se existe um padrão de choro do bebê, o que melhora, o que piora, se tem algum horário mais comum onde o choro aparece. Isso pode facilitar a compreensão e ajudar na solução do caso. Passando às dicas e sugestões, vale a pena pensar em partes, lembrando sempre que o bebê pode se beneficiar muito quando há uma rotina nos seus primeiros meses de vida extrauterina.

ALIMENTAÇÃO DO BEBÊ E DA MÃE

  • O uso de chupetas e mamadeiras pode aumentar as chances de deglutição de ar quando o bebê suga. Sempre que possível, evite-as. Se for usar, restrinja o tempo.
  • O aleitamento materno em livre-demanda nutre e alimenta o corpo e conforta a alma do bebê, acalmando grande parte de suas inseguranças.
  • Apesar de não haver estudos que confirmem essa possibilidade, tente evitar na sua alimentação alimentos que possam causar gases, eliminando uma possível causa por alguns dias e avaliando as mudanças. Os maiores causadores de desconforto abdominal são produtos enlatados, cafeína, brócolis entre outros, mas para cada caso pode ser um alimento diferente.

AMBIENTE

  • Ambientes calmos, com temperatura agradável, pouca luminosidade, música calma, o canto da mãe ou sons da natureza, uma cadeira de balanço ou uma poltrona confortável podem fazer com que a mãe e o bebê sintam-se mais confortáveis.
  • Passeios fora de casa, por um tempo não prolongado, com poucas atividades que estimulem e excitem o bebê, especialmente antes de dormir podem ser feitos tanto no período em que o bebê está calmo e feliz quanto quando ele chora, para tentar distraí-lo e acalmá-lo.

CONTATO COM O BEBÊ

  • Segure o bebê mais inclinado.
  • O sling (carregadores) pode ser usado de rotina e durante o período de cólicas.
  • Deitar o bebê com a barriguinha em seu colo, massagem suave nas costas ou no corpo todo (Shantalla pode ser uma opção interessante), flexão leve das perninhas sobre a barriga, colocando-o no berço se ele adormecer.

CONFORTO E CALOR

Um banho morno no bebê, uma toalha ou fralda mornas na barriguinha, enrolar o bebê em um cobertor aquecido também podem ajudar. Se nada resolver, volte a conversar com seu pediatra para que ele possa avaliar seu bebê clinicamente e orientar sobre medicações ou outras condutas necessárias. Independente de tudo isso, por mais que o choro de seu bebê não seja algo fácil de aceitar, vale lembrar que essa é uma fase passageira, que a sua segurança e compreensão da situação são importantes para que o desespero não tome conta da família e que, sempre que necessário, o pediatra é seu aliado nessa fase e pode e deve ser consultado sempre que houver qualquer tipo de dúvida (não apenas essa). Outras fases virão (dentição, angústia da separação, introdução alimentar, volta ao trabalho, desfralde, adolescência) e cada uma delas será importante para o amadurecimento do bebê e de vocês como pais. E quando tudo parece sob controle… a menstruação atrasou? Será? Rsrs. Até o nosso próximo encontro por aqui.
Esse artigo faz parte de uma série, para ler as demais partes, acesse:
Dr. Moises Chencinski

Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com título de especialista em pediatria pela Associação Médica Brasileira (AM...

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