Pequeno Manual de Dicas – AMBIENTE DE SONO
Você já teve uma semana para pensar nas perguntas que eu te fiz. Nem se lembra delas? Vou refrescar sua memória:
– Avaliando tudo isso que nós conversamos até agora (baseado nas 5 partes da matéria e nessa de hoje), isso incomoda vocês? Quanto, não financeiramente falando, vocês (pais) estariam dispostos a investir em mudanças para modificar o padrão de sono de seu filho?
Lembrou? Pensou?
Bom, vou fazer o seguinte. Vou começar com um Pequeno Manual de dicas gerais para promover um bom sono em qualquer idade. Para “construir essas orientações” usei material de vários autores (coloco no final do texto para quem quiser conhecer um pouco melhor cada uma das sugestões) e minha experiência no consultório associada a outras informações que aprendi com o tempo de vida profissional (33 anos… uau… entreguei… rsrsrs). Vou comentar cada uma delas ou o grupo delas.
Pelo jeito essa novela vai durar mais do que Redenção (link pra quem nunca ouviu nem falar, o que deve ser a imensa e esmagadora maioria de vocês, mas vale como cultura geral. A maioria dos atores não está mais viva. Vejam as fotos de Francisco Cuoco e Fernanda Montenegro… rsrsrs).
Antes de iniciar, vale lembrar que essas são dicas que muitas vezes podem parecer conflitantes em algumas situações, mas podem ser aproveitadas em situações distintas, e nas mais variadas idades, para criar ou mudar hábitos criados.
E hábitos e rotinas são criados e não impostos. E para se mudar um hábito, é necessário desconstruir o anterior e construir um novo. E isso não vai acontecer à base de tratamento medicamentoso e sim por opção de vocês.
AMBIENTE DE SONO
Como vocês vão perceber, não há ponto sem controvérsias nesse assunto e elas já começam aqui. Há estudos que dão suporte para todas as possibilidades que vamos discutir.
Onde a criança pode ou deve dormir?
Algo que todos concordam é que o local em que a criança durma (o quarto) seja limpo, confortável (cama, berço, carrinho ou cestinho de tamanho adequado), silencioso, em uma temperatura amena, agradável, que possa ser escurecido (quando a melatonina já puder agir – lembrem-se da parte 4 dessa “novela” –Os hormônios do sono).
Em crianças maiores, é interessante que não haja TV, iPods, computadores, DVDs, videogames no quarto. Esses eletroeletrônicos podem distrair a criança e criar situações de rejeição a dormir.
Também a criança não deve criar o hábito de adormecer vendo TV, DVD pela mesma razão. Cria-se esse hábito para o adormecimento e as crianças, uma vez mais estimuladas, podem ter dificuldade no adormecer em qualquer idade.
As controvérsias e debates começam quando se colocam as seguintes questões:
- No mesmo quarto ou em quartos separados?
- Na mesma cama com os pais (co-leito ou cama familiar) ou nunca?
Possibilidades apresentadas
- A criança deve dormir em seu quarto, em seu berço, desde o início e sempre em seu quarto;
- A criança deve dormir em seu quarto, em seu berço, desde o início sendo liberados os 3 primeiros meses para que a criança durma no quarto dos pais, em bercinho ou no carrinho ou em cestinho, até que todos estejam tranquilos, seguros e mais confiantes. A partir daí, a criança deve adormecer e dormir em seu quarto ou pode adormecer na cama com os pais e ser levada para seu quarto assim que adormecer e permanecer por lá o restante da noite;
- Em casos em que esse seja o segundo ou terceiro filho, para não acordar os outros durante a noite, ela pode dormir no quarto dos pais, mas é importante que, de alguma forma, se criem dois ambientes ou uma forma em que a criança não veja os pais. Isso geraria a sensação de dois quartos. A partir do momento em que a criança já não acorde mais à noite, ela deve ser levada para o seu quarto e dormir em seu berço.
- Em casos em que haja apenas um quarto para a criança dormir e ela vai ficar no quarto dos pais. É importante que, de alguma forma, se criem dois ambientes ou uma forma em que a criança não veja os pais. Isso criaria a sensação de dois quartos, com certa privacidade.
- Independente da situação, o ideal é que a criança adormeça onde ela vai ficar durante a noite e que não adormeça em um lugar (na cama dos pais, na sala, por exemplo) e durante a noite seja levada para seu berço ou cama. Se ela acordar pode estranhar, se assustar e chorar pela insegurança da situação. Não estamos nos referindo a bebês que dormem mamando. Nesse caso, não há como ser diferente. Mas crianças pequenas não têm muita consciência corporal, de tempo, espaço e até por isso fica menos difícil essa transição.
- A criança nunca deve dormir na cama com seus pais, nem para acalmar, nem para facilitar a vida da mãe, nem para cuidar melhor da criança quando ela estiver doente. Tudo o que se habituar numa fase inicial de aprendizado de sono pode se perpetuar e a criança só vai adormecer assim. Além disso, há muitos trabalhos identificando o co-leito como um dos fatores importantes no risco aumentado de Síndrome de Morte Súbita Infantil (SMSI), especialmente nos primeiros 6 meses de vida, com maior probabilidade nos primeiros 3 meses. Cada um deve ter seu espaço e sua individualidade.
- O co-leito deve ser visto com muito cuidado. Muitas mães o praticam e não costumam contar a seus pediatras. Uma postura muito radical pode fazer com que os pais, apesar de confiarem nos pediatras escolhidos, não compartilhem todas as informações com ele, por medo de levarem uma “bronca”. Essa atitude é ruim para todos. Há trabalhos mostrando uma prevalência de co-leito de 42% aos 6 meses de vida.
- A criança pode e deve dormir com os pais, em um esquema conhecido como “co-leito seguro”, com orientações expressas para que as mães não bebam nada alcoólico, não fumem, não usem drogas ilícitas, não deixem a cabeça das crianças cobertas durante o sono e nem a agasalhem em excesso (informações doDr. Roberto Issler– de Porto Alegre, grande estudioso e pesquisador do assunto).
- Observe onde seu bebê dorme melhor, como vocês dormem melhor e onde vocês gostariam que ele dormisse. Pode ser na cama do casal, berço ou cestinho no mesmo quarto perto ou longe da cama dos pais, ou em quarto diferente. Teste as possibilidades e observe qual a melhor opção para toda a família. Comece por aí.
Minha opinião
Como se percebe, as possibilidades são muito variadas. Não há como determinar que uma esteja correta e outra errada. Cada uma dessas condutas pode ser testada. A decisão é filosófica, cultural, educacional, social.
E nada garante que uma ou outra sejam melhores se relacionarmos com resultado futuro que é um sono calmo, sem interrupções, a partir de uma determinada idade, repousante e que não interfira em nada na dinâmica da criança e na da família.
Além disso, cada fase de vida da criança pode determinar uma necessidade, um risco diferente, uma disponibilidade diferente dos pais. Nada impede que se mude de uma opção para outra, lembrando sempre que hábitos precisam ser criados e modificados com paciência, amor e muita perseverança.
Já fui muito contra o co-leito, já fui mais radical, já quis determinar regras para bebês recém-nascidos, já dei muita “bronca” em mães. Com o tempo, com a experiência, com a observação de grupos de mães, com a leitura de muitas matérias, de muitas vertentes, aprendi a ser mais resiliente (A American Psychological Association define resiliência como o “processo e resultado de se adaptar com sucesso a experiências de vida difíceis ou desafiadoras, especialmente através da flexibilidade mental, emocional e comportamental e ajustamento a demandas externas e internas”).
Acho que cada decisão de cada família deve ser respeitada e apoiada nesse sentido e que o pediatra deve estar preparado para orientar qualquer uma delas, e fornecer ferramentas e apoio para cada família manter sua conduta ou modificá-la a qualquer momento que seja necessário ou desejado.
Você já escolheu a sua opção? Está satisfeita com ela? Quer mudar alguma coisa?
Na próxima semana, vamos falar sobre o ADORMECER e talvez sobre a ALIMENTAÇÃO (depende do tamanho que ficar).
Referências que valem a pena conhecer:
–Sociedade de Pediatria de São Paulo (Relator da matéria: Dr. Tadeu Fernando Fernandes – Pediatra em Campinas – Presidente do Departamento de Pediatria Ambulatorial da SPSP).
–Guia do Bebê (Dra. Andréia C. K. Mortensen– neurocientista)
Esse artigo faz parte de uma série, para ver as demais partes, acesse:
- Parte 1
- Parte 2
- Parte 3
- Parte 4
- Parte 5
- Parte 6
- Parte 7
- Parte 8
- Parte 9
- Parte 10
- Parte 11
- Parte 12
- Parte 13
- Parte 14
- Parte 15
- Parte 16
- Parte 17
- Parte 18
- Parte 19