Pequeno Manual de Dicas – ALIMENTAÇÃO
E aí? Alguns já estão conseguindo dormir melhor? Entendendo pelo menos um pouco mais sobre a dinâmica do sono? Já acertaram o ambiente de dormir como foi sugerido na semana passada?
Agora, para ajudar um pouco mais a entender tudo o que envolve o sono, vamos falar da alimentação infantil (não da mãe).
Até aproximadamente 3 a 4 meses de vida (como já vimos) o ritmo do bebê é ultradiano, isto é, diferente do que acontece com as crianças maiores e com os adultos, ele come de dia e come à noite e dorme de dia e dorme à noite.
A partir daqui podemos tentar ajustar um pouco mais o ritmo dele.
– Mas como assim? A orientação não é aleitamento materno em livre-demanda?
– Sim.
– E então?
Calma.
A primeira providência é não deixar que o bebê estique os horários de sono durante o dia. Se isso acontece, ele corre o risco de encurtar os horários à noite.
Assim, quando estiver chegando perto de 3 horas e quinze minutos do início da última mamada, se o seu bebê ainda não deu sinais de ter acordado. Tente abrir aos poucos as janelas, “aumentar um pouco o volume da casa” (pelo menos nessa hora, sem funk ou vai Curintia… rsrsrs), promover um pouco mais e movimentação e sinta se ele mostra alguma possibilidade de acordar.
Se nada acontecer, lembre-se que livre-demanda significa o bebê mamar quando ele quiser e você também dar de mamar quando você quiser. A cada 3 horas e meia, durante o dia, é uma forma interessante de você estabelecer um “certo ritmo” dentro da livre-demanda.
A ideia não é deixá-lo chorar de fome para que ele entenda, mas sim favorecer sua passagem do ritmo ultradiano para um ritmo circadiano, promovendo um saudável e desejável sono noturno.
Atenção:
Independente de toda nossa vontade, de nosso estímulo, aos 6 meses se inicia: o DESMAME.
Como assim? Largar o peito? De jeito nenhum!!!
Seu @%@&@))#*&@….
Calma, calma. É só uma questão de definição.
DESMAME a que estamos nos referindo não é largar o leite materno. É quando se introduz qualquer outro tipo de alimento no dia-a-dia da criança, até mesmo água. E essa introdução de alimentos novos, somente a partir do 6º mês de vida, independente do tipo de leite que a criança está tomando (aleitamento materno exclusivo, fórmulas infantis ou aleitamento misto – sem leite integral abaixo de um ano de idade) é um primeiro passo para grandes mudanças.
A ideia é que entre os 6 meses, quando se inicia a alimentação complementar, e um ano de idade, a livre-demanda se transforme em um ritmo circadiano com 5 refeições ao dia e que a criança coma a “comida da casa” (desde que “a casa coma direito”).
A introdução alimentar (em inglês: BLW – Baby Led Weaning), também determinada pela criança, com introdução de frutas (sem sucos), vai aos poucos e com paciência e persistência sair de um ritmo de 10 a 12 refeições ao dia para 5 (3 refeições com leite e duas grandes refeições – almoço e jantar – com cerca de 4 a 5 porções de frutas ao dia).
Assim, uma primeira meta é não alimentar de madrugada. Esse é o sonho de consumo de todos, não é mesmo? Uma vez que a dinâmica do dia esteja mais estabelecida, só terá maiores dificuldades em criar esse ritmo à noite quem pratica o co-leito. Mas mesmo nessas, após um ano de idade, é interessante que essa atitude seja tomada.
Não é raro o desmame total após um ano de idade em mães que não conseguiram promover uma noite de sono. Por questões de trabalho, de dinâmica familiar ou até mesmo de saúde própria, uma grande parte de mães, de ótimas mães, diga-se de passagem, sentem necessidade de dormir a noite toda. E o caminho mais “lógico”, mais “fácil”, mais “imediato” é o DESMAME TOTAL.
Assim, para preservar a família, a saúde física e o equilíbrio emocional dos pais, a melhor opção, na minha opinião, seria parar de amamentar durante a noite e manter o leite materno durante o dia. O que vocês pensam disso? Daqui a pouco voltamos a esse assunto difícil.
Até aqui falamos sobre crianças em aleitamento materno. Amamentar à noite, em co-leito, na posição deitada, mesmo sem escovação de dentes, não é problema quando estamos falando de aleitamento materno. Já não se pode assumir essa mesma postura quando estamos falando em bebês amamentados por fórmula infantil ou mesmo em aleitamento misto em uso de mamadeiras, à noite.
Há uma imensa diferença estrutural quando falamos de seio materno (e aí não estou falando do leite e sim do seio) e de uma mamadeira com bico ortodôntico.
Confusão de bicos
Alguém já ouviu falar sobre isso?
É muito comum se ouvir que a mamadeira é mais fácil de mamar e que o bebê se cansa, enjoa do peito. Não é beeeeemmmm assim que acontece.
A posição do seio na boca difere da posição da mamadeira.
Sabe o que é uma mamadeira ou um chupeta ortodôntica?
É um bico que se assemelha ao bico do seio materno e que se adequa melhor ao palato, causando menos deformações de arcada. Legal, né? Não mesmoooo.
A pega do seio materno não é no bico e sim na aréola. Mães sem bico ou com bico invertido podem amamentar sem nenhum problema. Precisa estimular e adequar melhor, mas a pega não é no bico.
Assim, quando o bebê suga o seio, ele massageia o seio com a língua e o bico vai parar quase na garganta, além da tuba auditiva, onde é recebido o leite. Quando ele suga a mamadeira ele pega mesmo o bico e ele precisa parar de sugar para que possa engolir todo o leite que ficou na boca. É muitooooo diferenteeeee.
Retomando o assunto de sono e mamadeira
Assim, bebês que mamam a mamadeira correm riscos de otites (leite passa pela tuba auditiva e chegam à orelha média) e de cáries (o leite fica na boca antes de ser engolido), enquanto que bebês que mamam no seio têm esse risco senão anulado pelo menos bem diminuído (leite vai além da tuba auditiva e não fica na boca).
Assim, crianças que recebem mamadeira à noite precisam, o quanto antes, suspender essa mamada após os 6 meses (que é mais ou menos a época da erupção do primeiro dentinho).
Como fazer? Substituir por água é uma das opções. Mas vamos dar dicas sobre isso na semana que vem.
E em crianças maiores?
Algumas sugestões são importantes no quesito alimentação para crianças que já passaram do primeiro ano de vida.
Se perceber que o sono da noite ainda não é o mais adequado:
– Não deixar a criança dormir com fome. Não jantou direito? Ofereça algo para complementar a refeição. Depois pode dar o seio ou a mamadeira. Escove os dentes. Depois coloque a criança para dormir.
– Também não deixar a criança jantar muito tarde, logo antes de deitar. Isso pode pesar para a digestão e interferir no adormecer e na noite de sono.
– Evitar chás, café, refrigerantes com cola sempre, mas especialmente após as 17 horas.
– Não usar nenhum medicamento para fazer a criança dormir, nem aqueles antialérgicos muito conhecidos que são remédios de tosse e que são usados pelo seu efeito colateral de dar sono.
Mais algumas rotinas que acho interessantes
Algumas atitudes bem gerais podem ser importantes para que a criança crie a sua rotina de adormecer e dormir à noite, que não dependem da sua idade.
– Se a criança não tiver inicialmente um horário para dormir e uma rotina de sono, estabeleça um horário máximo para ela acordar. Imagine uma criança que dorme às 23 horas ou mais e acorda às 10 da manhã. Ela mama ou toma seu café da manhã às 10. A que horas ela conseguira ter fome para almoçar? Por volta das 14 horas. Se tiver que almoçar às 12 ou 13 horas, ela não sentirá fome. E assim. Sua rotina do dia vai sendo empurrada para cada vez mais tarde (almoço às 14 horas / lanche às 18 horas / Jantar por volta das 21:30 e… dorme às 23 horas ou cada dia um pouco mais tarde).
Essa é uma rotina que acontece nas férias.
Muitas mães chegam ao consultório com a queixa de que seus filhos não comem, mas após uma conversa conseguem concluir que a questão está mais relacionada ao sono do que ao apetite. Uma vez corrigida essa dinâmica de sono, volta o apetite.
– Quanto às sonecas, elas são muito importantes tanto para que o bebê se desenvolva adequadamente como para o sono noturno. Um bebê muito cansado pode chegar a “brigar com o sono” tanto para adormecer quanto para manter seu sono noturno.
Assim, as sonecas devem ser estimuladas, mas é bom que elas não aconteçam após as 16 horas. Se isso ocorrer, essa criança pode ter dificuldades para adormecer antes das 23 horas, por exemplo. Daí… volte ao item anterior.
– Atividades físicas: A criança precisa estar relaxada para adormecer. Assim aquela ideia de:
“Vamos brincar, correr, agitar bastante a criança antes de dormir assim ela fica cansada e adormece mais facilmente” não rola. Crianças de qualquer idade excitadas, agitadas apresentam mais dificuldade em adormecer e têm seu sono mais leve. Um dia em que a criança teve muitos passeios, festa, brincou e se agitou muito pode fazer com que ela tire um cochilo à tarde, masss… mais tarde… cadê o sono? O gato comeu.
Assim, a atividade física é fundamental durante o dia, mas que seja até por volta das 16 a no máximo 17 horas para crianças.
Por hoje, já temos informações suficientes para que vocês possam tentar mais algumas alternativas a respeito do sono de seus filhos. Semana que vem quero tentar ajudar vocês a fazer seus filhos adormecerem.
Esse artigo faz parte de uma série, para ver as demais partes, acesse:
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