Hora de Dormir: O Sono – parte 17

Ainda mais uma última sugestão de método. Dá tempo?

Com certeza, a cada dia alguém descobre um novo jeito de resolver seus problemas em relação ao sono de seus filhos e aparece com novas e revolucionárias sugestões. Aqui, no nosso cantinho do sono, eu falei sobre alguns deles e ia encerrar. Porém, quando fui começar a terminar percebi que tinha um separado e que foi citado por uma das mães em uma pergunta na matéria da semana passada.

Assim, vou me ater a mais esse (último?) método e acho que é uma alternativa diferente das que citamos aqui, que pode ser tentado com bons resultados também.

Criança dormindo com a mamãe na mesma cama - Foto: Chubykin Arkady/Shutterstock.com

Mudando o padrão de sono na cama familiar

Essa técnica é propagada por um pediatra (Dr. Jay Gordon), de Nova York, adepto do aleitamento materno e da cama compartilhada.

Dr. Jay Gordon destaca alguns pontos interessantes de sua vivência médica, que servem de base para sua técnica.

  • Bebês ficam melhores quando atendidos da melhor forma possível;
  • Crianças que dormem em cama compartilhada e são amamentadas em livre-demanda por mais de um ano podem não demorar a dormir a noite toda;
  • Algumas mães acham mais simples amamentar seus bebês deitadas e voltar a dormir do que dizer não e tentar outras formas ou de levantar para amamentar no outro quarto;
  • Muitos casais ficam muito cansados e preferem mudar essa dinâmica. Infelizmente, muitos optam pelo desmame total ao invés de apenas o desmame noturno.
  • Não é recomendável nenhuma modificação forçada no sono antes de um ano de vida (com exceção de mães em situação impeditiva de aleitamento). Quanto mais cedo o bebê recebe o “não-resposta” de seus pais, maiores as chances dele se fechar, em proporções variáveis.
  • Não há uma “essa é a última hora para o bebê sair da sua cama, senão ela nunca mais vai sair”. Quem vai determinar isso é a dinâmica familiar.
  • Há uma opção entre o “ter que viver assim pro resto da vida” e o “deixar chorar que isso passa”.
  • Apesar de ser favorável à cama familiar e à amamentação em livre demanda por um longo tempo, é necessário apoiar as famílias que precisam de mudanças para manter uma dinâmica familiar saudável.

As bases do método

Esse é um método para ser iniciado após um ano de idade do bebê, com ambos os pais de acordo que esse seja o momento, que o bebê seja e esteja saudável e que ainda acorde de noite a cada 2-4 horas para mamar, receber carinho, ver se os pais ainda estão ali, ou qualquer outro tipo de razão.

– Escolher as 7 horas mais valiosas de sono para você.

– Durante esse período (essas 7 horas), mude as regras, ciente de que o bebê está seguro, pois foi criado para confiar nos pais. A partir de agora, ele vai passar a ter tudo o que ele quer, “quase” o tempo todo.

– Estar preparados para que o bebê chore, reaja e não mudar a linha por conta disso.

O processo inicial se divide em 3 períodos, dois de 3 dias e um de 4 dias. Isso mesmo, um total de 10 dias. Ele se baseia em uma vida (um ano pelo menos) cheia de carinho, amor e confiança do bebê em seus pais.

As primeiras 3 noites

Você escolheu que o horário que você quer dormir (7 horas seguidas) é das 23 às 6 horas. Assim, oferecer o seio para o bebê em qualquer momento antes das 23 horas, ninar o bebê e colocar o bebê para dormir.

Quando e se ele acordar depois disso, abraçar o bebê, amamentar por um período menor, sem deixar que ele adormeça mamando. Colocar o bebê na cama acordado, massageando suas costas, abraçando o bebê até que ele durma novamente, sem amamentar o bebê (seio ou mamadeira).

Ele pode demorar para adormecer, chorar por estar bravo, não gostar dessa rotina, mas, consciente do carinho durante esse tempo, não estará assustado ou com medo.

Use esse mesmo padrão durante as 3 primeiras noites, mas para que ele mame novamente ele deverá dormir e acordar novamente (após 15 minutos ou 4 horas).

Resumo das noites 1, 2 e 3 do método: Mama antes das 23 horas, dorme, acorda, mama um pouco (menos do que o habitual), é colocado para dormir ainda acordado, adormece com seus carinhos e só mama novamente se dormir e acordar, tantas vezes quantas ele acordar durante essas 3 noites, independente do intervalo. A partir das 6:01 da manhã, não se aplica mais esse método, que é usado somente nessas 7 horas escolhidas.

Mesmo tendo chorado, os pais vão perceber que os bebês não guardam mágoas, acordando risonhos e felizes, como sempre foram.

Se os pais julgarem que não estão preparados para isso, não estiverem conseguindo agir dessa forma nesse momento, devem parar e reiniciar quando acharem que o momento certo chegou.

As próximas 3 noites

Segue-se, novamente, o mesmo esquema de amamentar para dormir até as 23 horas. A grande diferença dessas próximas 3 noites é que, se e quando o bebê acordar, deve-se abraçar o bebê, aconchegar-se com ele por alguns minutos e não amamentá-lo novamente, colocando o bebê para dormir novamente, acordado.

Para tranquilizar os pais, esse período de 7 horas é perfeitamente tolerado por bebês nessa fase, após um ano de idade, tanto do ponto de vista nutricional quanto afetivo e emocional.

Deve-se saber que os bebês criam uma rotina e para mudá-la é necessário desconstruir a anterior e reconstruir uma nova e isso não costuma ser fácil, sem hesitação ou choro por parte deles, por períodos variáveis (minutos a uma hora não fazem muita diferença para o bebê, ele tem esse fôlego).

Segundo o criador do método, a cama compartilhada ou o berço ou colchão no mesmo quarto dos pais é um método que favorece a confiança e a segurança no contexto dessas mudanças. O bebê terá seu apoio, seu conforto, mesmo talvez não sendo esse o que ele desejaria.

Será difícil ouvir seu bebê chorar, ao seu lado, tão perto, sabendo que o que ele quer está com a mamãe (o aconchego e a nutrição do leite materno). Mas os pais devem se lembrar de que tudo foi feito até agora com o bebê sendo o centro e o foco das atenções da família, que ele é muito amado, e que também o bebê será beneficiado pelo sono contínuo dele e dos pais.

A tendência é que nessa sexta noite o bebê já se habitue a dormir sem mamar, com o carinho e o aconchego dos pais, durante uma noite.

Ainda assim, vale o mesmo comentário das 3 primeiras noites. Se os pais julgarem que não estão preparados para isso, não estiverem conseguindo agir dessa forma nesse momento, que algo parece “errado”, então devem parar e reiniciar quando acharem que o momento certo chegou. Não se deve ir contra os instintos.

Resumo das noites 4, 5 e 6 do método: Mama antes das 23 horas, dorme, acorda, não mama mais, é recolocado para dormir ainda acordado, com seus carinhos e abraços, massagem, conversa e não mama mais novamente, mesmo se dormir e acordar, tantas vezes quantas ele acordar durante essas 3 noites, independente do intervalo. A partir das 6:01 da manhã, não se aplica mais esse método, que é usado somente nessas 7 horas escolhidas.

As próximas 4 noites

Após as primeiras 6 noites, seu bebê já não precisa mais mamar para adormecer e os carinhos e massagens e abraços substituem a mamada para que o bebê se acalme e volte a dormir novamente.

Nas próximas 4 noites, o que muda?

Inicia com o mesmo esquema de amamentar para dormir até as 23 horas. A grande diferença dessas próximas 4 noites é que, se e quando o bebê acordar, os pais não devem pegá-lo e nem abraçá-lo. Passa-se agora para uma nova fase: conversar com ele, tocar o bebê, falar um pouco mais, mas não pegá-lo no colo e ele deve adormecer novamente, sozinho, sendo massageado nas costas, repetindo o padrão, mesmo se ele acordar outras vezes.

Segundo a experiência do autor, ao final da nona noite, o bebê vai adormecer sozinho novamente, com a massagem e a voz calma da mãe.

Resumo das noites 7, 8, 9 e 10 do método: Mama antes das 23 horas, dorme, acorda, não mama mais, é recolocado para dormir ainda acordado, com bem menos carinhos, sem abraços, com massagem e conversa e não mama mais e não é pego no colo novamente, mesmo se dormir e acordar, tantas vezes quantas ele acordar durante essas 4 noites, independente do intervalo. A partir das 6:01 da manhã, não se aplica mais esse método, que é usado somente nessas 7 horas escolhidas.

E depois disso?

Após essas dez noites, o método deve ter montado um novo padrão, uma nova rotina de adormecer e manter pelo menos 7 horas de sono contínuo na família.

Siga a mesma rotina para adormecer, se quiser, e mantenha a mesma dinâmica durante a noite, se o bebê for um pouco mais resistente às mudanças e mantiver por mais alguns dias (3 a 7, se acontecer) a sua ”firme intenção de não dormir”.

Se algo interferir nesse processo (viagens, doenças) e seja necessário um maior contato noturno? Faça tudo o que for necessário nesse período (dar de mamar, carinho, colo, ninar, sempre que necessário) e, assim que o processo causador da mudança foi resolvido, reassuma as posturas de 1 a 3 noites anteriores. O bebê, que já passou por essa situação e conhece o padrão que a criança tinha estabelecido, deve retomar, dessa vez com menos resistência, a rotina anterior.

Minha opinião

Esse seria um método intermediário, que mescla apoio, carinho, percepção das necessidades do bebê, com uma técnica que aceita que o bebê chore, mas que coloca uma posição mais firme em relação às condutas nesses casos.

Pontos questionáveis:

– É um método que preconiza a cama compartilhada ou berço no próprio quarto. É uma limitação para famílias que não têm esse hábito ou estão pretendendo modificá-lo. Quando as crianças dormem em berços em outros quartos, o método não é tão prático.

– Ainda se admite que a criança chore pelo tempo que for necessário para que ela se adapte a uma nova rotina.

– O autor considera que em dez dias a grande maioria das crianças estará adaptada à nova rotina.

Pontos favoráveis:

– Inicia-se esse método após um ano de idade. Até um ano respeita-se o ritmo da criança, não se impondo nada que possa causar transtornos em seu desenvolvimento.

– O contato constante, com apoio, carinho, abraços, massagens, conversas fortalece um vínculo familiar que se ainda não existia pode ser criado e reforçado.

– Protege-se o aleitamento materno, fazendo com que o desmame que poderia ser causado por uma família cansada, imaginando que parar de amamentar seria a solução, se restringe apenas ao necessário: o desmame noturno. Assim, podemos manter a orientação de aleitamento materno desde a primeira hora de vida, exclusivo e em livre-demanda até o 6º mês, estendido até 2 anos de idade ou mais.

Acho que já conversamos bastante sobre o sono e o desenvolvimento da criança, já conseguimos compreender sua dinâmica e tudo que está envolvido nele, conhecemos alguns dos métodos mais divulgados e utilizados, identificamos alguns problemas comuns que podem interferir no sono da criança.

De forma nenhuma tenho a pretensão de esgotar o assunto, até porque a cada dia novas descobertas são feitas e novos métodos e tratamentos propostos. Enquanto o ser humano tiver que reaprender a exercer funções que eram absolutamente naturais e que se perderam com o passar do tempo e com o surgimento de tecnologias que “apareceram para ajudar”, mas nem sempre ajudam, temos sempre muito a conversar.

Questões como aleitamento materno, sono, urina e fezes que deveriam ter respostas simples (comemos quando temos fome, dormimos quando temos sono, fazemos xixi quando a bexiga está cheia e evacuamos quando temos vontade) parecem ficar mais complicadas a cada dia que passa.

Acho que nas próximas duas ou três semanas ainda vamos estar por aqui falando sobre o sono. Tenho ainda algumas ideias que queria colocar aqui para ouvir a opinião de vocês. Mas tá acabando, tá? Snif, snif.

Agora ampliamos as suas possibilidades de compreensão e de atuação. Ainda temos alguns métodos a comentar para partirmos para alguns transtornos comuns de sono, que podem ser identificados com a ajuda da observação e da atenção dos pais e um bom contato com o pediatra.

Semana que vem tem mais, você não acredita? Me aguardem!!!

Esse artigo faz parte de uma série, para ver as demais partes, acesse:

Dr. Moises Chencinski

Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com título de especialista em pediatria pela Associação Médica Brasileira (AM...

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