Hora de Dormir: O Sono – parte 13

Uma solução ou só mais uma promessa? Leia e me diga você.

Dessa vez, cumprindo o que prometi há 2 semanas, vou falar um pouco sobre uma linha que pode ser considerada menos agressiva, mais “humana”, mas que também requer uma predisposição, uma dose grande (algumas ou muitas vezes) de paciência e uma forma de agir, pensar e viver compatível com a metodologia proposta.

Assim como em todos os métodos conhecidos (e os que estão por vir), desde que seguidos de acordo com os “passos indicados”, vamos ouvir experiências de mães que usaram, que tiveram sucesso, assim como outras que, apesar de toda sua vontade e aplicação não teve o “problema de sono de seu filho” resolvido.

Sem mais enrolações, me acompanhem na abordagem do método “Soluções para noites sem choro”. Também vem de um livro, escrito por Elizabeth Pantley(site oficial dela, dos seus livros, com muito espaço para navegar). Ela se descreveu como mãe de 4 filhos (Angela-14, Vanessa-12, David-10 e a última, Coleton-2 anos, “razão do livro”) e uma educadora que resolveu compartilhar suas experiências, entre elas, as noites sem sono.

Há 2 livros sobre Soluções para Noites sem Choro (para bebês até 1 ano e outro para crianças e pré-escolares de 1ano a 6 anos– links para textos em inglês).

Em ambos os casos, há muitas questões envolvidas. Para os bebês, a autora aborda temas como os cuidados com a cama compartilhada, horário mais adequado para dormir, como deixar seu bebê adormecido dormir, dicas sobre as situações em que seu bebê acorda toda hora à noite para mamar o seio ou a mamadeira. Já para as crianças maiores, fala a respeito das sonecas diurnas, os medos, pesadelos e terror noturno(que vamos abordar aqui em uma das próximas partes dessa série), a mudança do berço para a cama e as visitas noturnas ao quarto dos pais.

Esse método, segundo a autora, após ter sido aprovado para Coleton (sua filha) foi testado em um grupo de 60 mães voluntárias com crianças de um mês a 2 anos e 3 meses. Esse grupo era composto de mães de filhos únicos ou não, algumas praticavam cama compartilhada outras não, aleitamento materno, misto ou de mamadeira, enfim, um grupo bem heterogêneo. E, segundo seu relato, no 10º dia do método, 42% das crianças dormiam a noite toda, aumentando para 53% com 20 dias, 92% aos 60 dias. Ela não citou 100% em nenhum momento.

Muitos temas para abordar, para conversar, mas vou me ater a uma “técnica” das mais difundidas em sua metodologia a respeito da qual vale a pena pensar.

Técnica de Remoção Gentil de Pantley

As bases do método

Alguns princípios considerados pela autora:

O recém-nascido dorme quando tem sono. Difícil colocá-lo para dormir sem sono ou acordá-lo quando em sono profundo. A digestão do leite é rápida e eles precisam acordar entre 2 a 4 horas para se alimentarem.

Quando ele vai dormir a noite toda? Para um bebê, especialmente um recém-nascido, uma esticada de 4 horas de sono é uma “noite completa”. Para que se atinja nossa expectativa de noite toda, pode-se levar até um ano ou mais.

É comum um bebê dormir sugando (seio, mamadeira ou até mesmo chupeta). Se ele sempre adormece assim, é mais do que natural que ele faça a associação sugar-dormir. A luta contra a natureza nunca é fácil e normalmente se sai perdendo. Assim, para que seu bebê não faça essa associação, é fundamental que ele sugue até estar sonolento, mas não totalmente adormecido. Quando puder, retire o seio, a chupeta ou a mamadeira (essas duas últimas poderiam ser evitadas ao máximo – segundo opinião da SBP, da OMS e minha) da boquinha do bebê e deixe que ele termine de adormecer sem nada na boca. A repetição dessa prática o ensinará a adormecer sem sugar.

Até quando alimentar à noite? Apesar de haver a recomendação de não deixar um bebê dormir mais de 4 horas sem mamar, há crianças que, desde cedo, durante a noite, até passam desse intervalo. Bebês emitem muitos sons quando dormem (gemem, grunhem, fungam, resmungam e até choram) e, na maioria das vezes, dormindo. Observe. Se o bebê acordar e estiver com fome, alimente-o para que volte a dormir. Mas se ele estiver dormindo, deixe-o dormir.

Diferenciar o dia da noite. Um recém-nascido dorme de 16 a 18 horas por dia, em cerca de 6 a 7 períodos de sono. Ajude-o a diferenciar o dia (sonecas em quartos mais claros, onde ele possa escutar os sons do dia) da noite (quarto mais escuro, silencioso). Banho, massagem e pijamas podem ser sinais de que esse será o sono da noite.

Sonecas diurnas são importantes para crescer, desenvolver e dormir melhor à noite. A autora disponibiliza uma tabela, onde ela coloca “didaticamente”, de acordo com a idade do bebê, o número de sonecas e sua duração, as horas de sono noturno e o total de sono de uma criança, explicando sua importância na recuperação de sua energia, na sua adaptação, na sua atenção e no seu humor.

Idade Número de Cochilos Duração Total de Cochilos (horas) Horas de Sono Noturno Total de Sono (horas)
1 mes 3 6 a 7 8 a 10 15 a 16
3 meses 3 5 a 6 10 a 11 15
6 meses 2 3 a 4 10 a 11 14 a 15
9 meses 2 2 a 4 11 a 12 14
12 meses 1 a 2 2 a 3 11 a 12 13 a 14
2 anos

1

1 a 2 11 a 12 13
3 anos 1 1 a 2 11 12
4 anos 0 0 11 11
5 anos 0 0 11 11

Normalmente, se a criança tira duas sonecas, ela sugere que sejam de cerca de 2 horas de duração, entre 9 e 11 da manhã e entre 12:00 e 14:30. Se o caso for de uma soneca só manter essa última (12:00 a 14:30). Muitas sonecas curtas não são adequadas. Ofereça um lanche saudável antes da hora da soneca, mantenha o quarto mais escuro, toque canções de ninar, vista o bebê de forma confortável. Certifique-se que nada esteja incomodando seu bebê (dentição, alergias, etc). Isso deve ajustar o tempo dessa soneca. E lembre-se: com o tempo as necessidades e as rotinas do bebê e de suas sonecas podem se modificar.

Assim, entendendo que breves despertares à noite são parte do sono de todos (crianças ou adultos), que a “associação para o sono”, especialmente mamando, mesmo sendo positiva e prazerosa tanto para a mãe quanto para o bebê e que, mesmo sendo fundamentais em nossas vidas, temos uma “nossa outra vida” que precisamos viver, afastados de nossos bebês, Elizabeth faz algumas sugestões para uma transição sem sofrimentos, mesmo inicialmente complicando um pouco mais as noites, em “busca de um futuro melhor”.

O bebê acordou. Amamente (seio ou mamadeira) ou dê a chupeta.

Essa é a orientação da autora. Que fique muito claro que não é a nossa orientação. O ideal é não iniciar o hábito da chupeta e, em caso de utilização de aleitamento misto ou só de fórmulas infantis, usar o copinho no lugar da mamadeira. Chupetas e mamadeiras podem causar “confusão de bicos” estimulando o desmame e dificultando o aleitamento materno, exclusivo ou misto.

Espere até que o ritmo de sucção comece a diminuir e que o bebê comece a relaxar para dormir. Interrompa a sucção com o dedo, de forma gentil e retire o bico (mamadeira ou seio) e a chupeta e só então coloque-o no berço. Numa fase inicial, variável de criança para criança, pode ocorrer de o bebê se assustar e voltar a querer sugar.

Acalente e nine o bebê e, com uma pequena pressão no queixo, tente manter a boquinha dele fechada. Se ele relutar e insistir, ofereça o que ele quer, mas repita a mesma técnica e sequência, tantas vezes quantas forem necessárias até que ele adormeça sem estar sugando.

Vale lembrar que cada bebê é diferente do outro, mas observando o ritmo e o ato de sugar que seu bebê mostra, espere até que o ritmo diminua, que a força de sucção diminua, que ele fique mais relaxado e pode iniciar a técnica de Remoção Gentil (RG).

Entre duas e dez tentativas é a impressão da autora até que ele adormeça sem sugar. Com o passar dos dias, essa forma de adormecer vai se estabilizar e cada vez será mais natural a técnica RG e os despertares à noite se tornarão mais raros.

Outra dica: só usar essa técnica durante o dia, para as sonecas, quando a noite já estiver estabilizada. Cochilos bons e regulares durante o dia podem favorecer o sono noturno.

Mais uma dica: é interessante que se use o plano de RG de Pantley na primeira adormecida da noite. A forma do primeiro adormecer da noite do bebê pode interferir nas acordadas e adormecidas do resto da noite.

Mesmo não sendo adepta de deixar o bebê chorando, é importante entender que os sons que ele produz enquanto dorme não significam, necessariamente, que haja necessidade de intervenção da mãe. Se for oferecido o seio para um bebê que dorme, ele quase que certamente irá sugar. Isso não significa que ele estivesse com fome.

Um banho, uma massagem, conversar de forma calma, músicas de ninar podem substituir a mamada, mantendo seu contato com o bebê e possibilitar um relaxamento que pode favorecer períodos mais longos de sono.

Uma última dica: muita paciência pois, mesmo parecendo que seu bebê nunca mais vai dormir a noite toda, essa é uma fase e, assim como todas as outras, deve passar. Fazê-lo sentir-se amado, seguro e, ao mesmo tempo, mudar uma rotina que ele tem desde que nasceu (dormir mamando), dando a ele a autonomia e a independência, sem deixá-lo chorando até adormecer é uma missão que pode ser complicada para todos.

Mas, se você sabe que sua intenção é boa, tenha paciência, persista e com o tempo, todos estarão dormindo em paz.

Minha opinião

Vale lembrar que os métodos que apresento aqui são muito mais amplos e mais abrangentes. Procuro apenas abordar alguns pontos que julgo centrais e explicar, um pouco, as formas de pensamento dos autores e suas histórias.

Pontos positivos:

Diferente dos métodos abordados até agora, essa linha de atuação parece ser menos traumática tanto para o bebê como para as famílias.

Livre-demanda, cama compartilhada, fisiologia dos ciclos biológicos e ritmos dos bebês são mais observados e até respeitados.

Pontos questionáveis:

Existe no texto muita ênfase a mamadeira e chupetas. Evidente que esse não era o foco do livro, porém poderia ter sido mais cuidadosa a abordagem relacionada a esses possíveis métodos de antecipação de desmame. Não tenho a ilusão de que muita gente deixe de usar esses “utensílios do mal” (rsrsrsrs), mas todo o esforço deve ser feito para evitar a divulgação dessas práticas.

O prazo para se atingir os objetivos pode ser demorado. Assim, não dá para pensar nesse método como um “pronto-socorro do desespero”, por exemplo. É realmente necessário estar preparado para entender que cada bebê pode ter seu ritmo diferente de sono, de reagir e de adquirir as novas rotinas.

Nem todas as famílias têm a mesma dinâmica de hora de acordar (cedo), de dormir (cedo). Há pais que trabalham o dia todo ou em horários incompatíveis para orientar melhor o método durante o dia.

Algumas crianças com problemas de sono já estão em creches, berçários, escolinhas que na maior parte das vezes não conseguem manter a mesma dinâmica da casa além de não ter a individualidade respeitada nem em horários de comer e nem de dormir.

Fecho aqui o comentário sobre esse método com 8 dicas do livro que, segundo a autora, podem ser direcionados a qualquer faixa etária (e que já falamos muito durante essa nossa série).

  1. Manter um esquema consistente de deitar e acordar, tentando iniciar o sono da noite mais cedo entre 18:30 e 19:30, pois assim dormem mais e melhor.
  2. Sonecas do dia são importantes para que a criança reponha as energias e não fique hiper-alerta durante o dia, dificultando o adormecer.
  3. Acompanhe o relógio biológico de seu filho, para que ele esteja realmente com sono quando chegar a hora de dormir. Aproveitar as influências hormonais de luz de dia e escuro à noite.
  4. Desenvolva uma rotina organizada, consistente, calma de adormecer, criando uma sequência prática como banho, pijamas, escovação de dentes.
  5. Crie um ambiente favorável ao sono, com temperatura agradável, pijamas confortáveis.
  6. Atenção à alimentação saudável durante o dia e antes de deitar. A deficiência vitamínica pode ser responsável por alterações de sono.
  7. Ajude seu filho a ser saudável e ajustado. Mais atividade física, até uma hora antes de deitar, e menos TV favorecem adormecimento mais rápido, melhor, mais duradouro e um despertar mais revigorante.
  8. Ensine sua criança a relaxar. Rituais antes de deitar, como ler histórias, podem fazer as crianças se acalmarem e prestar atenção aos seus pais, sentados ou já deitados.

Agora ampliamos as suas possibilidades de compreensão e de atuação. Ainda temos alguns métodos a comentar para partirmos para alguns transtornos comuns de sono, que podem ser identificados com a ajuda da observação e da atenção dos pais e um bom contato com o pediatra.

Semana que vem tem mais, você não acredita? Me aguardem!!!

Esse artigo faz parte de uma série, para ver as demais partes, acesse:

Dr. Moises Chencinski

Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com título de especialista em pediatria pela Associação Médica Brasileira (AM...

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