Mais algumas experiências e estamos quase dormindo…
Quando eu acho que tudo foi dito, lido, escrito a respeito do assunto, sempre aparece mais algum artigo, mais alguma observação, mais alguma ideia revolucionária e maravilhosa prometendo que “agora”, “dessa vez em definitivo”, os segredos serão revelados e todas as crianças irão dormir através dessa “técnica infalível”.
E os pais, alguns mais preocupados, outros mais desesperados, outros tantos cansados pra caramba, alguns revoltados seguem essa nova, última, mais recente descoberta em estudos e… nem sempre dá certo.
Então como abordar a questão do sono? Como algo que deveria ser tão natural – se estou cansado, fecho os olhos e durmo – tem que passar por tantas manobras, tantas gambiarras, tantos truques, tantos palpites, tant… tá já ficou claro, não é mesmo?
Não há uma “fórmula”, uma “receita” de bolo única, em que sejam usados sempre os mesmos ingredientes e que saia idêntica, feita por mãos diferentes e que agrade a todos da mesma forma. Ou será que todos gostam de coco, banana, damasco ou creme no seu bolo?
Vou tentar resumir aqui (dou o link para quem quiser ler as matérias na íntegra) os últimos textos que quero comentar. Muito do que vai ser apresentado já foi abordado na nossa série, mas acho que algumas visões são interessantes, diferentes e podem ser bem úteis (ou não… rs) com tantas famílias diferentes. As duas chegam do mesmo site: http://www.askdrsears.com.
8 fatos sobre sono que todos os pais deveriam saber
Dr. Sears (ou Dr. Bill como é conhecido) é um pediatra filado à AAP e professor da Universidade da Califórnia que fala também a respeito de sono.
Um dos textos é 8 fatos sobre sono que todos os pais deveriam saber com 8 itens e 4 “lições para os pais”.
Ele descreve como é o adormecer do adulto e sua rotina e compara com o adormecer da criança. Uma colocação interessante é a divisão entre dois tipos de sono da noite: sono profundo (ou sono tranquilo) e sono leve (ou sono ativo) e a transição entre eles (do profundo para o leve) é chamado de período vulnerável, em que qualquer estímulo pode despertar quem estiver dormindo.
Segundo Dr. Sears, adultos têm 6 horas de sono profundo e 2 horas de sono ativo por noite em ciclos de 90 minutos, enquanto as crianças apresentam essa variação em ciclos mais curtos (de 50 a 60 minutos), com o dobro de períodos de sono ativo.
Assim, para que uma criança consiga adormecer de forma eficaz, ela já deve estar no sono profundo e com os pais. Os sinais de que essa fase foi atingida no bebê, sempre embalado e no colo, iniciam com uma suspensão do sorriso, com relaxamento muscular intenso (fica “largadinho”), respiração mais regular, superficial, os punhos que ficam fechados se abrem e os braços e pernas ficam pendurados. E esse período, entre o sono leve e o sono profundo pode ser de 20 minutos. Com o passar dos meses, esse intervalo diminui e o adormecimento é mais fácil.
Outra questão abordada nesse texto é que as crianças são diferentes e que umas adormecem mais facilmente, mas acordam mais à noite enquanto outras podem ter mais dificuldade para adormecer, mas a partir daí dormem a noite toda. Sua orientação é observar seu bebê e suprir as suas necessidades, criando um ambiente que ajude o bebê a passar pelo período vulnerável e chegar ao sono profundo novamente, sem acordar.
Vale destacar que apesar de o bebê não dormir tão profundamente quanto um adulto, esses despertares são muitas vezes fatores de proteção e sobrevivência. Essa é uma das condições que podem prevenir a Síndrome da Morte Súbita Infantil (SMSI). Os bebês têm um estômago pequeno e precisam mamar com mais frequência, até porque a digestão do leite materno é mais rápida. Se eles dormissem profundamente desde cedo e não fossem acordados pela fome, correriam o risco de uma hipoglicemia que poderia até levá-los à morte. Vale o mesmo raciocínio para um nariz entupido ou alguma outra necessidade básica. Resumindo: o sono ativo e o período vulnerável são fatores de proteção do bebê.
Aqui está uma justificativa para termos maiores cuidados, segundo Dr. Sears, com os “treinamentos de sono” que, apesar de fazerem o bebê dormir de forma mais profunda por mais tempo, desde mais cedo (sonho de muitos pais), interferem nos mecanismos de proteção de vida do bebê, colocando-os até em risco de morte (pesadelos de muitos pais).
Assim, se acompanharmos o desenvolvimento dos bebês, vamos perceber que seus ritmos de sono são consequência de sua idade, de seu amadurecimento, de sua evolução e podem ser influenciados por questões próprias de seu desenvolvimento (dentição, resfriados, aquisição de novas capacidades como sentar, rolar e andar que podem ser “exercitadas” durante a noite).
31 maneiras de seu bebê adormecer e se manter dormindo
Esse texto é enorme, mas vale a pena comentar alguma coisa a respeito. Entre todas essas questões,esse textofaz algumas considerações interessantes.
Dr. Sears ressalta a importância de criar um ambiente saudável e uma boa relação do bebê com o momento de dormir. Os “treinamentos” que não respeitam a individualidade e o tempo de cada criança podem ser fatores de desestabilização, especialmente os que permitem que a criança chore por um tempo, até que se acostume a dormir (que pode ser usado em algumas situações).
Antes de tentar agir na mudança de rotina do bebê, pense se não há nada na sua rotina que possa ser alterado em benefício do bom sono de todos. Afinal, você pode controlar as suas reações, mas não as do bebê.
E quando for tentar mudar a rotina de seu bebê, lembre-se que nem todos reagem da mesma maneira por terem temperamentos, ritmos, famílias diferentes. Haja de acordo com sua consciência e observe o que é adequado para o seu caso. Se um método não está funcionando para o seu caso, suspenda e mude.
O sono não pode ser imposto ao bebê. Ele adormece quando tiver sono, naturalmente.
Segundo Dr. Sears, cada criança vai demonstrar sua preferência, por exemplo, no local de dormir (seu quarto ou quarto dos pais, berço, cestinho ou cama compartilhada) e os estilos podem ser modificados, sem uma rotina preestabelecida.
Não ter uma rotina é uma justificativa para adequar melhor o sono do bebê. Ele tende a adormecer de uma forma que será a mesma que ele utilizará quando acordar à noite. Assim, seria interessante que o bebê se acostumasse com muitas formas de adormecer (ser embalado no colo, com música de CD ou cantada, ser observado, pelo pai, pela mãe).
Dr. Sears cita duas principais possibilidades de colocar um bebê para dormir, ambos com vantagens e desvantagens:
- Os pais ou cuidadores, ao perceberem que o bebê está pronto para dormir, ajudam-no nessa fase (ninando, cantando, acalmando ou usando qualquer técnica para confortar). Com isso, o bebê aprenderia que adormecer, e continuar dormindo, pode ser seguro, agradável, criaria lembranças de cuidados dos pais para adormecer e um padrão de confiança. Porém, dessa forma, o bebê associaria o adormecer a estímulos externos e quando ele despertasse à noite precisaria desses mesmos estímulos. Isso poderia cansar os pais.
- O bebê seria colocado no berço acordado e adormeceria por conta própria. Os pais estariam presentes, oferecendo conforto, mas não estão lá quando ele desperta. Nesse caso, se o bebê aprende a dormir sozinho, ele poderia voltar pelo mesmo caminho nesses despertares noturnos por não ter que associar seu adormecimento a nada. Essa forma pode ser mais dura com o bebê, mas pode ser menos exaustiva para os pais. Porém, o bebê pode chorar por algumas noites e tornar os pais menos sensíveis ao choro de seus filhos, podendo não criar aquela confiança necessária.
Algumas colocações são explicadas:
- Um suporte mais próximo dos pais pode favorecer um dia mais tranquilo. Um dia mais tranquilo favorece uma noite mais sossegada.
- Cochilar junto com o bebê durante o dia, em horários determinados, além de dar um período de repouso importante para a mãe, pode criar rotinas de sonecas diurnas.
- Horários consistentes e rituais de adormecimento (banho quente, massagens, ninar, embalar, canções de ninar) favorecem crianças em adormecer e manter o sono. Mas, como nem sempre os horários de trabalho dos pais combina com essa rotina, uma soneca à tarde com um horário mais tarde para dormir pode ser uma opção para esses casos.
- Crianças gostam tanto de brincar que, muitas vezes, pulam o horário da refeição, o que não é saudável e pode fazê-los acordar à noite com fome. Alimentar o bebê a cada 3 ou 4 horas pode favorecer essa rotina.
Algumas dicas de transição entre o estado de vigília para o adormecimento
Nem todas as crianças adormecem facilmente. Algumas possibilidades de facilitar são citadas, desde amamentar até que ele adormeça, usar a sequência de calores (banho quente, braços quentes, seio quente e cama quente), a voz masculina mais grave, embalar o bebê no colo ou em uma cadeira de balanço, passando por amamentar e deitar-se aconchegando e abraçando o bebê (abraço de urso), usar o sling para aconchegar bem o bebê.
Outras técnicas para que o bebê se mantenha dormindo
A primeira parte foi cumprida. O bebê adormeceu. Mas como fazer para que ele não acorde durante a noite?
Aqui também aparecem algumas sugestões práticas:
- Vestir o bebê para a ocasião: nem tão apertado nem com roupas tão soltas, nem tão quentes, mas nem tão frias.
- Quarto mais escuro e silencioso: evitar telefones, animais no quarto à noite e fechar cortinas ajudando a manter um ambiente sem estímulos.
- Sons e músicas para dormir: canções de ninar, alguns sons da natureza, aquário, sons que podem ser até gravados.
- Não deixar o bebê dormir com fome: alimentar o bebê a cada 3 a 4 horas durante o dia, para que siga o mesmo ritmo enquanto for mais novinho e espace mais à noite quando for maior.
- Diminuir os desconfortos físicos: limpar o nariz entupido, acalmar a dor da dentição, manter as fraldas limpas e secas, evitar fumaça de cigarro e outros irritantes respiratórios no quarto do bebê.
- Temperatura adequada no quarto, na roupa, no berço.
O que fazer se mesmo assim o bebê acorda?
Essa é uma rotina que deve estar estabelecida antes mesmo de acontecer para que o bebê tenha suas necessidades atendidas com segurança e confiança e que os pais possam voltar a dormir rapidamente.
Observando e reconhecendo o ritmo de seu bebê, você pode determinar melhor a sua conduta. Se ele geme, grita e adormece sozinho, não mexa. Mas se ele fizer tudo isso e se não for atendido ele passa a acordar e tem dificuldade em adormecer novamente, aja antes que ele acorde colocando sua mão firmemente sobre suas seu peito ou até dando palmadinhas leves no ritmo de seu coração (pai pode ser bem sucedido nessa ação). Pais e mães devem compartilhar essa missão para que o bebê se acalme tanto com um quanto com outro.
Há algumas causas clínicas que podem influenciar o despertar noturno. A Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), alergias alimentares, cólicas, gases, erupção dentária podem ser tratados e propiciarem uma continuidade de sono a todos quando resolvidos.
Acho que após todas essas semanas, passamos pela maioria das informações, técnicas, métodos, orientações, dicas que eu conheço sobre o problema do sono. Não analisamos todos os livros, todas as possibilidades, mas não há muita diferença entre os que já foram apresentados e avaliados aqui e os que faltaram.
De forma alguma, essa série tem a intenção de substituir a avaliação e o acompanhamento do seu pediatra. Ele é indispensável.
Para a próxima semana, vamos programar o fechamento dessa série, com um resumo e alguns pensamentos que podem ajudar a dar uma diretriz mais geral.
Até lá.
Esse artigo faz parte de uma série, para ver as demais partes, acesse:
- Parte 1
- Parte 2
- Parte 3
- Parte 4
- Parte 5
- Parte 6
- Parte 7
- Parte 8
- Parte 9
- Parte 10
- Parte 11
- Parte 12
- Parte 13
- Parte 14
- Parte 15
- Parte 16
- Parte 17
- Parte 18
- Parte 19